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Ainda uma palavra sobre o ofício de escrever

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Meu último artigo, do dia 6 de julho - cujo título é "Sobre o ofício de escrever (para jornal)" - rendeu um considerável número de mensagens positivas e fiquei, cá com meus botões, a tagarelar sobre as variadas possibilidades temáticas que nos são oferecidas, a nós cronistas/articulistas, para abordagem em nossos textos. E sobre como, muitas vezes, somos quase condicionados pelos fatos para tratarmos de um ou outro assunto, que cresce à nossa frente, sobrepujando todos os demais.

E assim, pergunto-me e lhes pergunto: que cronista de jornal, mesmo transvestido de articulista (aquele que escreve artigos, o que pressupõe opinião), não quer falar de suavidades, de coisas leves, de coisas que adocicam a alma e exaltam a possibilidade - que deveria ser permanente - da concórdia, da paz e do amor?

Quem - cronista ou não - é capaz de afirmar preferência por dizer, ao invés de eu te amo, eu te odeio, porque sabemos, ao contrário do ódio, o amor é essencial à vida; querer bem é alimentar a consciência das nossas limitações e da necessária interdepen-dência a que estamos, de forma permanente, submetidos nas relações com os semelhantes em nossas andanças pelo mundo.

É inegável, todavia, que há pessoas que parecem movidas pelo ódio e pelo desamor. Pelo ódio do que é diferente, do que é desconhecido, do que foge ao padrão e à estandardização moral decorrentes de interpretações equivocadas da vida, inclusive, por parte daqueles que, usando em vão o nome de Deus, interpretam literalmente os chamados textos sagrados. No caso da Bíblia, especialmente o Velho Testamento. Pelo desamor pela vida alheia, pela sorte de povos inteiros ou pelo infortúnio do irmão que está ao lado ao alcance de um abraço.

O cronista faz da vida e seus múltiplos enredos a matéria-prima do seu ofício. Nesses enredos, vê-se toda hora e por qualquer ângulo de análise que se queira, do mais absurdo e abjeto egoísmo até os mais tocantes gestos de desprendimento e de solidariedade. E assim, ele fala da vida e das suas circunstâncias, com a licença do filósofo madrileno Ortega y Gasset.

Eu, de minha parte, pudesse, dedicar-me-ia a exaltar o amor que sinto e nunca as decepções que eventualmente me atormentem ou as frustrações coletivas. Como afirmei há décadas em um poema intitulado "Discurso": (...) Nós queremos palavras retas, lineares, despojadas / palavras claras, limpas, exatas / a métrica inominada / a rima pobre / a conjugação dos verbos regulares (...) Permita Deus / que possamos encontrar /a maneira mais simples / de dizer eu te amo / tu me amas, nós nos amamos / casa, água, pão / abraço, encontro, agregação / paz, prece, canção / vida, morte, lição / Maria, José, João / em nome do pai, / do filho, do irmão.

Infelizmente, os fatos obrigam até mesmo o cronista mais lírico e sonhador, porque ele não vive à margem da realidade, a mexer no lixo que também nos circunda e quer nos envolver.

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